Suzanne Collins - Trilogia Jogos Vorazes 01 - Jogos Vorazes

“Ele tenta vomitar o líquido, mas é tarde demais, já está perdendo os sentidos. Enquanto ele se vai, vejo em seus olhos que o que fiz é imperdoável.
Fico sentada sobre os calcanhares, olhando para ele com uma mistura de tristeza e satisfação. Um rastro de amora escorre de seu queixo e eu o limpo.
- Quem é que não sabe mentir, Peeta? Pergunto, embora saiba que ele não pode me ouvir.

Não tem problema. Panem inteira pode.”



Irresistivelmente humano!

Katniss é uma grande personagem, mas mais do isso, ela é humana em cada ação, cada pensamento, cada sentimento. Katniss não tem afetação, não se esconde. Ela é uma sobrevivente.
Amei o Peeta, apesar de acha-lo um pouco apagado nesse livro, espero que isso não aconteça nos próximos. Haymitch é, bom, o bêbado mais esperto que conheço. Fico imaginando a dor pela qual passou. Quero conhecê-lo mais.
Aliás, gosto da maioria dos personagens, principalmente do Cinna. De todos os atores que interpretaram os personagens dessa trilogia no cinema, ele foi, para mim, o mais bem representado. Não conseguia deixar de ver o Lenny Kravitz na minha imaginação.



Mas voltemos um pouco. A história, para quem ainda não leu, ou não assistiu aos filmes (algo meio impossível, mas tudo bem) trata de um local atingido há muito tempo pela guerra e pelos desastres naturais, onde uma nova sociedade e formou. Panem, este novo país surgido, era composto por 13 distritos, cada qual responsável por fornecer a capital um recurso proveniente de seu território. Houve uma rebelião, com o tempo, e um dos distritos, o 13, foi extinto.
A fim de que as pessoas se lembrassem do poder e controle que a capital exercia sobre suas vidas, foram instaurados os Jogos Vorazes: competição na qual um casal de cada distrito, na idade entre 12 e 18 anos, deveriam se digladiar numa arena até a morte, onde só poderia haver um vencedor, e toda Panem seria obrigada, anualmente, a assistir o massacre.
A edição dos jogos da qual Katniss e Peeta participam é a 74ª. Eles foram os tributos (é assim como chamam os casais de cada distrito) do distrito 12, especializado na escavação de minérios, principalmente o carvão. Levados à capital para serem apresentados à toda Panem e preparados para os Jogos, Katniss e Peeta se veem em outra realidade, com novas roupas, comida fácil, mas também afetação, falsidade e intolerância. Depois largados na arena, são obrigados a passar por várias situações de perseguição e fome para sobreviver, além da necessidade de matar. Só um poderá sobreviver, mas quem será?

A trama é toda exposta pela visão da Katniss. Com alguns momentos de flashback sobre seu passado, vamos conhecendo um pouco mais sobre ela e a maneira como vive. Katniss tem uma capacidade perceptiva forte, pelo menos no que diz respeito à luta e a sobrevivência. Tendo, desde a morte do pai, sustentado sua família, tornou-se apta na caça, o que se torna uma vantagem dentro do jogo.
Mas Katniss não é apenas força bruta, por mais antipática que possa parecer. Ela tem sentimentos profundos sobre a injustiça das coisas. Mas ela não é uma complet revoltada. Katniss só quer sobreviver, ter um futuro melhor para ela e para os seus. Ela não quer guerras, ela não sente prazer em matar. Ela tem nojo de toda a situação dos jogos, mais pela crueldade em si e pela forma como as pessoas da capital tratam como entretenimento, do que pelo controle da capital.
Claro que ela gostaria de poder caçar na floresta, sem estar constantemente preocupada com as punições que poderiam surgir. Ela gostaria de não ter que se esforçar tanto para adquirir poucas coisas. De sofrer com a fome e a miséria. Ela queria uma vida confortável, ela queria somente se sentir segura.
Para mim, as atitudes da Katniss, não só em relação à sua mãe, mas com Peeta e os demais personagens, são perfeitamente compreensíveis. Katniss é humana, não uma heroína. Ela é uma lutadora, é humilde e tenta ajudar aqueles de quem gosta. Mas ela também sente raiva e desconfiança, e dentro de todo o ambiente da arena, os erros que acaba por cometer, não a diminuem. Só a tornam mais forte aos meus olhos.
Não vou passar muito tempo falando sobre o livro. Existem muitas coisas que podem ser aproveitadas numa discussão. Reflexões sobre o poder da imagem e sua reprodução como forma de controle. Os aspectos políticos por traz de cada ato. A relevância desproporcional que algumas ações tomam, mesmo que de forma inconsciente.
Enfim, o livro é um prato cheio. É uma ficção envolvente. Um entretenimento. Mas é mais do que isso. É uma análise de nossa própria impotência em relação as coisas que estão postas e o medo da mudança, e do como somos controlados pela aparência do poder. 
Suzanne Collins, meus parabéns. Foi a reflexão mais sutil e preciosa que tive durante uma leitura sobre nossa sociedade atual. Palmas para ela.




Super recomendo. Boa leitura!

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