Cipreste Triste - Agatha Cristie

“- Acorde, querida...
Calou-se. Ela se abaixou, puxou umas das pálpebras para baixo. Então deu um salto, sacudindo a garota com sincero desespero.
Voltou-se para Elinor. Havia algo ameaçador na voz dela ao indagar:
- O que significa isso?
Elinor retrucou:
- Não sei do que está falando. Ela está passando mal?
A enfermeira Hopkins perguntou:
- Onde está o telefone? Chame logo o dr. Lord.
Elinor indagou:
- Qual é o problema?
- O problema? A garota está passando mal. Está morrendo!

Elinor deu um passo para trás:
- Morrendo?
A enfermeiroa Hopkins afirmou:
- Foi envenenada...

Seus olhos, enrijecidos de desconfiança, fitavam Elinor.”


Neste livro, Agatha Christie apresenta o primeiro caso de tribunal de Hercule Poirot.
Na história, Elinor Carlisle é acusada de matar Mary Gerrard, uma jovem do campo que cuidava de sua tia doente. Além disso, há a suspeita de que ela também tenha assassinado a tia.
O início do drama começa no tribunal, onde vemos Elinor tentando abstrair da confusão onde se meteu. Uma moça aparente fria e controlada, Elinor tem uma alma passional que tenta esconder de todos, principalmente de seu amor e primo, Roddy Welman.
Através dos olhos e pensamentos da ré, acompanhamos a história antes das mortes: os receios de Elinor, a doença da tia, o interesse que Roddy parece ter ela jovem Mary, além de conhecer todos os outros personagens que virão a ser testemunhas no julgamento.
Acompanhando essa parte, vemos como as suspeitas e pistas apontam para Elinor como assassina, mesmo que vejamos boa parte da história sob seu ponto de vista. Esse foi uma grande manobra da autora: esta consegue inserir alguns possíveis suspeitos, apesar de tudo apontar para Elinor, até ela mesma.
E é aí que entra Hercule Poirot. Convidado por uma das testemunhas a descobrir o real assassino (se ele existe) e livrar Elinor da punição, o detetive mostra interesse no caso, principalmente na aparente facilidade da resolução do caso. Ele começa a fazer uma série de entrevistas com as testemunhas. Mas Poirot suspeita de todos, principalmente quando percebe que nem todos estão lhe contando a verdade.

O livro é muito bom. Prende sua atenção do início ao fim. Todos se transformam em suspeitos em algum momento na nossa cabeça, e não apenas por conta da investigação de Poirot. Antes mesmo de ele entrar, já estamos com a pulga atrás da orelha. E o número de suspeitos diminui, aumenta, descartamos uns, e mais na frente achamos que eles podem ser culpados. E o final é surpreendente. Principalmente por não atinamos para o motivo do crime, o motivo do verdadeiro assassino.
E este motivo é a coisa mais bem escondida, pelo menos o foi para mim. Já havia suspeitado da pessoa, mas nunca do motivo.
Descobrimos tudo junto com todos os demais personagens, no tribunal mesmo, e nem ao menos é Poirot que narra sua descoberta. Adoro a forma como o detetive cata seus indícios e releva a verdadeira importância de coisas muitas vezes tidas como insignificantes. E aqui não é diferente.
Os personagens também são interessantes ao seu modo, pois cada um, em algum momento, narra a história. Temos Roddy, a própria Mary, as enfermeiras Hopkins e O’Brien, o dr. Lord e a tia de Elinor e Roddy, Lauran Welman. Existe também um leve triângulo amoroso, ou deveria dizer, quarteto amoroso na história.

Cheio de intrigas, meias verdades e uma boa investigação, este livro é uma maravilha e merece ser indicado. Leitura rápida e divertida também. Recomendadíssimo.

Boa leitura!

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