Henry sorriu e disse:
- A senhorita formou uma
ideia muito favorável da abadia.
- Formei, sim. Não é uma linda
construção antiga como aquelas que existem nos livros?
- E a senhorita está
preparada para encontrar lá todos os horrores que uma construção como aquelas
que existem nos livros poderá produzir? Tem um coração corajoso? Seus nervos
estão prontos para encontrar passagens secretas atrás das tapeçarias?
- Oh, sim! Acho que não vou
me assustar facilmente, pois haverá tanta gente na casa. Além disso, ela nunca
ficou desabitada durante ano, e sua família não voltou pra lá sem qualquer
aviso prévio, como em geral acontece nos romances.
O
trecho acima destacado nos dá uma ideia de como é o temperamento da protagonista
de Jane Austen neste romance. Catherine Morland é uma jovem do campo que, a
procura de aventuras, acabou encontrando nos romances góticos do século XIX uma
maneira nada sutil de encarar a realidade.
Sim.
A jovem Catherine está decidida a ser a heroína de um romântica e aventureira
história. Isso torna a história escrita por Austen leve, engraçada e nem um
pouco enfadonha de se ler. Aliás todos os personagens tem características que
tornam a leitura prazerosa, sendo interessantes a seu modo. Tanto s Allen (que
levam Catherine a Bath); Henry Tilney (interesse amoroso da jovem), que possui
uma atitude sarcástica e cativante, e que dá um tom muito divertido as suas
conversas com Catherine; e até mesmo os insuportáveis irmãos Isabela e John
Thorpe, sempre interesseiros e afetados.
A
história em si centra-se na viagem que Catherine faz a Bath com os Allen e
onde, totalmente cativada pela agitação e eventos sociais do lugar, conhece os
Thorpe e os Tilney. A medida que vão se tornando próximas, algumas situações
constrangedoras e mesmo incompreensíveis para a protagonista vão acontecendo.
O
comportamento antes tão animador e cordial dos Thorpe vai mudando, e muitos
mal-entendidos são por eles empregados na vida da jovem. Além disso, o
interesse surpreendente que o pai de Henry demonstra para com ela e sua família
provoca muita animação, mas também muita tristeza para Catherine. E o convite
impetuoso para conhecer Northanger Abbey só prejudica mais a situação dela.
Apesar de que, sejamos honestos, os erros de Catherine e dos demais personagens
para com sua pessoa, abrem os olhos da protagonista para a vida real, sem
contudo, tirar a graça e alegria de viver da jovem. É um crescimento, mesmo que
não muito acentuado, de caráter.
A
história também trabalha não só a ingenuidade de Catherine, mas também, de
forma sutil, o jogo e interesses que permeava todas as relações sociais no século
XIX, principalmente em relação ao casamento. As dificuldade para matrimônio não
são esboçadas com tanto fervor como em Orgulho
e Preconceito e Razão e Sensibilidade,
mas mesmo assim, você vai percebendo isso através da leitura. E tudo isso
regrado a bom humor e a fantasias góticas.
Outro
fator que torna a obra muito interessante é a forma como Jane Austen fala sobre
os romances góticos da época e o verdadeiro fascínio que despertavam nas moças.
Os livros citados realmente existiram e Austen mostra as visões conflitantes
que a sociedade tinha sobre a validade e a influência deles na vida das
pessoas.
O
livro é maravilhoso, curtinho e super rápido de se ler.
Recomendadíssimo.
Boa
leitura!
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