Todos os dias, na aula de Álgebra,
nós pegávamos o diário e escrevíamos os nomes de todas as pessoas da escola que
odiávamos em segredo. Sentávamos na última fila, um do lado do outro,
implicando com Christy Bruter e a professora Harfelz. Pessoas que nos
irritavam. Pessoas que pegavam no nosso pé. Especialmente aqueles que nos
intimidavam, a nós e a outras pessoas.
Acho que em algum momento
pensamos que a lista viria a ser publicada, que poderíamos mostrar ao mundo
como algumas pessoas podiam ser horríveis. Que seríamos os últimos a rir
daquela gente, das líderes de torcida que me chamavam de “Irmã da Morte” e dos
atletas que davam pancadas no peito de Nick quando ninguém estava olhando,
daqueles “garotos perfeitos” que ninguém acreditava que eram tão ruins quanto
os “garotos maus”. Conversávamos sobre como o mundo seria melhor se houvesse
listas iguais à nossa em todos os lugares, as pessoas seriam cobradas por seus
atos.
Esse
livro é suave e pesado ao mesmo tempo. Pesado pelo conteúdo, suave pela
sutileza da escrita da autora, mesmo que em alguns momentos ela não seja tão
sutil assim.
A
história centra-se numa tragédia ocorrida numa escola, onde o namorado de
Valerie, Nick, atira em vários colegas, seguindo uma lista que ele e Valerie
montaram de pessoas que sempre os perturbavam. Valerie, que não sabia do plano
do namorado, tenta impedi-lo e acaba baleada. Nick se suicida logo em seguida e
Valerie, que sobreviveu, vai ter que lidar com a culpa, o luto pelo namorado, a
desconfiança das pessoas e seus medos mais sombrios.
O
principal foco dessa história é a forma como o bullying pode alterar a vida das
pessoas, muitas vezes de forma inimaginável. E como também as pessoas são
preconceituosas com o diferente. Ao mesmo tempo quero salientar também a
importância de percebemos os outros, algo que a autora frisa de maneira bem
singela.
Se
formos ver pela perspectiva da Valerie como era o relacionamento dela, e mesmo
através das conversas com o psicólogo da garota, ela nunca, realmente, percebeu
quem era o namorado dela. Valerie tenta a todo custo se encaixar com o Nick. Ela
não repara muito nos problemas dele, na forma como ele fala sobre as coisas. Não
que ela pudesse ter adivinhado o que ele planejava, mas a forma como ela sempre
concordava com as falas dele, mesmo que ela nem prestasse atenção naquilo,
poderia ter dado indícios de que ele não estava bem.
Mas
não podemos culpar Valerie por sua cegueira. E nem pelo ocorrido. Todos os indivíduos
envolvidos tinham suas culpas e remorsos. Tratar os outros como lixo, como
aberração, com insultos disfarçados de gracinha. O tratamento diferenciado dado
a alguns como se fossem superiores e a cegueira por parte dos pais e
professores em relação a esses tipos de agressão física e psicológica (são
agressões, sim) são atitudes imperdoáveis e que podem provocar traumas. Isso não
justifica as ações de Nick. Mas ele precisava de ajuda, e isso não foi
percebido. Esse tipo de comportamento agressivo para com ele só reforçou seu
ódio por tudo o que vivia.
Nick
e Valerie, assim como tantos outros, só precisavam ser respeitados e tratados
como pessoas de valor. O menosprezo, os preconceitos disfarçados nas piadinhas,
a implicância e as agressões físicas devem ser impedidas e quando ocorrerem,
devidamente punidas.
Isso
serve para todos os tipos de bullying: racial, de peso, de altura, de inteligência,
de posição social, todos os tipos. Quando rimos de uma piada sobre loiras,
sobre pessoas gordas, sobre cor de pele, estamos contribuindo para essa
situação. Quando desmerecemos as conquistas e as lutas de alguém, isso é
preconceito e é bullying.
Todas
as pessoas deveriam ler esse livro. Crianças, jovens, adultos, velhos. Todos nós,
em algum momento das nossas vidas, já passamos por uma situação de bullying e
preconceito. A mensagem de perdão, superação e reflexão sobre as nossas
atitudes passadas pela obra devem ser discutidas por todos.
Super
recomendo esse livro.
Boa
leitura!
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