Harry apanhou-a e ficou
olhando, o coração vibrando como um elástico gigante. Ninguém, jamais, em toda
a sua vida, lhe escrevera. Quem escreveria? Ele não tinha amigos, nem outros
parentes – não era sócio da biblioteca, de modo que jamais recebera sequer os
bilhetes grosseiros pedido a devolução de livros. Contudo, ali estava, uma
carta, endereçada tão claramente que não podia haver engano.
Sr. H. Potter
O Armário sob a Escada
Rua dos Alfeneiros 4
Little Whinging
Surrey
Harry
Potter realmente é um clássico juvenil, mas que encanta a todas as idades. Como
já havia visto os filmes, mas nunca realmente lido os livros, sabia dos enormes
elogios a obra e dos inúmeros fãs conquistados em todo o mundo. Mesmo assim,
não fiz a leitura com muitas expectativas. Esperava me sentir cativada pelo
ambiente e pela história, como havia sido com os filmes, mas esperava mais
coisas, pois num livro se tem mais liberdade e tempo de explorar determinados
aspectos que num filme, onde o tempo é reduzido.
O
livro para mim é, na esmagadora maioria das vezes melhor que o filme, mas ouso
dizer que, nesse caso, os dois são excelentes e complementares para entender
todo o mundo criado pela autora. Não pretendo aqui fazer um resumo da história.
Todos invariavelmente a conhecem, e ficar estendendo-me no assunto não seria
bom. Então irei direto as minhas impressões.
Tanto
o filme quanto o livro tem uma qualidade importante. Eles te prendem desde o
primeiro momento. Não pelo mundo mágico em si, mas pelos personagens, pela
curiosidade de saber quem eles e sua importância. No início do livro, com a
narração por parte do sr. Dursley, me senti cativada por esse personagem o que
não acontece no filme. A forma rápida como as coisas acabam sendo contadas no
filme, não nos permitem compreender, nem que seja um pouco, a personalidade e
vida dos parentes de Harry, mas no livro, os conhecemos muito mais.
Ver
o desespero dos Dursley em fugir do imaginário, de incutir a crença que um
mundo sem mágica é mais seguro e real, é muito parecido como ver conhecidos nossos.
Quantas pessoas não vivem sem magia, sem imaginação, ou mesmo as tendo se
recusando a usá-las. Senti-me próxima a eles, pois mesmo sendo uma fantasia,
esses personagens parecem tão reais e próximos que nos cativam. E isso acontece
com todos os personagens. Vemos Harry, Hermione e Rony e o surgimento de sua
amizade: primeiro aproximação por se sentir excluído, depois a identificação de
gostos semelhantes e a aceitação do outro como ele é.
Até
mesmo os erros e acertos de uma amizade. Por mais distante que estejamos da
cultura europeia e mesmo da cultura bruxa, existem valores abordados nos livros
de Rowling que são parte da natureza humana. Os medos, a necessidade de se
provar e ser aceito, a irritação com nossos amigos e com pessoas que
aparentemente não temos muito em comum. Ver Harry e Rony esnobando um pouco da
personalidade de Hermione, como um mecanismo de defesa a inteligência dela é
tão comum e real para nós, quanto o remorso que sentem por essa mesma ação.
Aliás
quero salientar que realmente a Hermione no início do livro é muito chata. Mas por
mais que os personagens deixem isso claro, só foi assistindo novamente o filme
que percebi mais fortemente isso. Gente, como a Hermione é exibida no filme. E adulta.
A mais adulta de todos os colegas, e não apenas por sua inteligência, mas pela
maneira de se portar. Ainda bem que Harry e Rony iniciaram com ela uma amizade.
Acho que isso ajudou muito a melhorar esse aspecto da personalidade dela.
Mas
nesse primeiro livro a influência de Hermione na vida deles não me pareceu tão
forte, ainda. Eles parecem de certo modo fazê-la se comportar mal em muitos
momentos. É quase uma corrupção que vai da Hermione certinha, para uma menina
que sai sem autorização dos dormitórios e anda com dragões ilegais pela escola.
Mas isso é muito divertido. Harry e Rony acabam ensinando ela a viver mais e
ela os ensina a serem mais espertos, ou pelo menos tenta!
Saindo
do trio, adoro a professora Minerva McGonagall, o Hagrid e o Neville. Hagrid,
ou Rúbeo, me encantou muito mais no livro que no filme. Ele parece ter mais
personalidade e bom humor. McGonagall é uma professora muito adorável. A cena
em que ela ver Harry voando e o leva para ver o capitão do time da Grifinória é
muito engraçada. Assistindo ao filme não ficou para mim tão claro a excitação
dela em integrar Harry ao time, mas no livro ela parece uma menininha. Neville,
no entanto, desde o início cativa. O garoto que sempre perde o sapo, que tem a
Hermione como um guia, que enfrenta seus amigos e sempre acaba se metendo em
confusão, mesmo não sendo sua culpa. Creio que um dos personagens que tem o
crescimento pessoal mais forte de toda a saga, principalmente pelo que já
sabemos do final dessa história.
Snape
e Dumbledore parecem um pouco mais completados, como personagens, no filme. O Snape
do livro é arrogante e implicante, mas não muito impactante. Já o do filme
complementa isso, tornando este personagem não só mais carismático ao
expectador, como também misterioso e mais interessante de se conhecer. Snape tem
uma expressão tão profunda, nem raivosa, nem sombria, mas de culpa, ou mesmo de
se provar mal, mesmo não sendo. Estou falando besteira, acho. É difícil
descrever com palavras a presença que é Snape. Sim, porque ele é uma presença
forte, tanto no livro quanto no filme. Mas no filme, isso é mais amplificado.
Já
Dumbledore é uma celebridade. Famoso, bem quisto e considerado na comunidade bruxa
é, ao mesmo tempo, nesse primeiro livro, gentil e animado, mas também sábio e
triste. Ele é encantador como professor e com seus pensamentos sábios. É muito
um filósofo. Ele te dá as dicas, mas quer que você reflita sobre elas. Nada com
Dumbledore é dado de mão beijada. Mas também tem um lado secreto, cheio de
segredos. Ficamos também curiosos sobre sua vida, pois mesmo sendo uma
celebridade, não se sabe muito sobre ele nesse livro.
Mesmo
tendo algumas diferenças entre livro e filme, elas são mais de âmbito técnico
que de coerência na história. As coisas acontecem mais rapidamente e tem alguns
personagens que não aparecem, ou são só mencionados. Uma ou outra coisa que foi
retirada da história, mas nada que influenciasse a compreensão, ou fizesse no
filme o que fizeram com Percy Jackson (entendedores, entenderão).
No
mais, fiquei ansiosa para começar logo os outros livros da série e rever os
filmes. É uma nostalgia tão grande, mas uma surpresa também. Você vê como
primeira vez cada momento. Acho que isso se deve ao tempo que já não assisto aos
filmes. Por mais que referências à obra sejam encontradas a todo momento, nas
redes sociais, em outros livros, nas conversas do dia a dia, mesmo assim é como
um primeiro olhar. Mesmo com saudades, é quase uma novidade cada cena ou
capítulo dessa história.
E
vocês? O que amam em Harry Potter?
Boa
leitura!
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