- O meu nome é Severino
Não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
Que é santo de Romaria,
Deram então de me chamar
Severino de Maria; (...)
E se somos Severinos
Iguais em tudo na vida,
Morremos de morte igual,
Mesma morte Severina:
Que é a morte de que se morre
De velhice antes dos trinta,
De emboscada antes dos vinte,
De fome um pouco por dia.
Obra
do pernambucano João Cabral de Melo Neto, Morte
e Vida Severina é uma história da dura realidade do sertão da seca. Ao
mesmo tempo em que descreve o ambiente e nos ambienta nele, o autor propõe uma
reflexão sobre a vida e morte para o nordestino, focando no retirante.
João
Cabral de Melo foi um poeta e diplomata brasileiro, que escreveu não só sobre suas
viagens e experiências, mas sobre sua terra, o povo que nela habita e a relação
entre os dois. A obra acima contém alguns poemas do autor, mas o meu enfoque
nessa curta explanação é falar para vocês sobre o poema título.
Morte e Vida Severina
acompanha a viagem de Severino, pernambucano pobre, que migra do interior do
estado para a capital em busca de um emprego e fugindo da fome de sua cidade
natal. Severino primeiro se apresenta e já na apresentação percebemos o tom do
autor, a forma como ele vai falar sobre esse povo.
A
determinação, a esperança fazem parte da narração, mas o autor também traça um
perfil dos costumes e lutas do homem com a terra. Como por exemplo a questão
agrária, os ritos fúnebres, a agricultura. Além disso, há também as distinções
sociais entre ricos e pobres, não só estruturalmente, mas na própria morte,
como na passagem em que dois coveiros comparam cada cortejo fúnebre e as
condições dos cemitérios.
Esse
poema é, além de tudo, um retrato social. O texto propõe uma reflexão sobre a
vida e a morte. Chego a dizer que o autor fez uma etnografia da vida do
retirante. Amo muito essa obra. Toca-me a maneira como o poema se torna uma narrativa
tão profunda e reflexiva. É um mergulho. A escrita é simples, regional e ao
mesmo tempo em que me vejo fazendo a jornada com Severino, eu como leitora,
nordestina, brasileira, vejo um pouco a jornada do próprio homem no mundo. É descobrimento
ou redescobrimento da finitude do homem.
Não
deixem de ler essa obra maravilhosa e escrevam nos comentários o que acharam
dela.
Boa
leitura!
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