A obsessão com o porquê percorria o silo aos sussurros, pessoas
querendo saber porque eles tinham feito o que fizeram, porque deixaram um
presente limpo e reluzente para as pessoas que os haviam exilado, mas isso não
interessava a Juliette nem um pouco. Ela achava que viam cores novas, sentiam o
indescritível, talvez tivessem uma experiência religiosa que ocorria apenas
diante da morte.
Não era o bastante saber que
isso sempre acontecia infalivelmente? Problema resolvido. Devia ser um axioma. Melhor
se preocupar com questões reais, como qual deve ser a sensação de passar por aquilo. Esse era o verdadeiro problema do tabu: não que
as pessoas não pudessem ansiar pelo mundo exterior, mas o fato de não terem
permissão nem de sentir pena dos limpadores nas semanas seguintes, de se
perguntar o que eles haviam sofrido, de expressar de modo adequado sua gratidão
ou seu pesar.
Este
livro é magnífico. Simplesmente amei a escrita do Hugh Howey, amei os
personagens, amei a história. Estou fascinada até agora.
Fiz
a leitura de Silo no final do ano
passado e foi com toda certeza, uma das melhores leituras de 2015. Passei o
final do ano pensando direto nesse livro. Levei um dia e meio para termina-lo,
mas parece que ele me acompanha. De vez em quando me pego pensando nele, em
alguns momentos marcantes, nas histórias de vida dos personagens. Quem ainda
não leu e ama ficção científica e distopias, precisa começar a leitura
imediatamente.
Mas
pra vocês entenderem um pouco do que se trata a história, segue um resumo
básico.
Muitos
e muitos anos depois da destruição do planeta Terra, o solo não é mais
habitável e o oxigênio não existe na superfície. O ar é completamente tóxico. Uma
pequena sociedade sobrevivente vive, então, dentro de um silo subterrâneo,
passando por situações de extremo controle de natalidade, criação de alimentos
e manutenção da segurança. O único contato com o mundo exterior que eles tem,
se dá através das câmera localizadas na parede externa superior do silo, que
capturam as imagens do mundo lá fora para os moradores. Imagens essas nada
animadoras. Mas de forma assombrosa, alguns daqueles que habitam o silo,
sentem, de vez em quando, a vontade de sair, a qualquer custo, da proteção
daquelas paredes, o que é considerado o crime enorme dentro dessa sociedade. Esses
homens e mulheres são então expulsos do silo e tem somente uma missão enquanto
esperam a morte lá fora: limpar as câmeras para os internos. O impressionante é
que eles sempre limpa e ninguém nunca sabe o porquê. O que há lá fora para
provocar essa ação nos limpadores? Só se sabe que eles sempre limpam e, depois,
sempre morrem a vista dessas mesmas câmeras.
Intrigados?!
Eu, então, fiquei animadíssima para ler essa história, mas ainda demorei muito
para pegar o livro. Sabe aquela sensação de que você pode se decepcionar com
uma história? Eu tive em relação a esse livro. Não que eu tivesse buscado
resenhas sobre ele, ou visto e ouvido comentários sobre a obra. Só gostei do
resumo, mas fiquei um pouco na defensiva com minha própria animação e resolvi
esperar, acalmar-me um pouco.
No
final do ano passado, naquela louca maratona de fim de ano que montei e que
quase foi um desastre completa, coloquei o livro na lista e comecei a leitura
em dezembro. Melhor ação do ano: abri o livro. É exagero da minha parte, eu
sei, mas gente, a história me pegou de um jeito logo nas primeiras partes que
eu não conseguia largar. Muitos de vocês podem lê-lo e depois me dizerem: Valha, como tu é exagerada, Natália. O livro
nem é isso tudo!
Para
mim, foi. Foi uma experiência nova e instigante. Logo no começo da história
temos a visão de um homem indo para a limpeza. Aí vocês estão pensando que já
sabemos o que acontece lá fora, mas só teve uma leve ideia, um gostinho e uma
suposição do que possa ser. Mas no decorrer da história, com investigações,
assassinatos, jogo político e rebeldia, a história toma um rumo que você não
imagina no começo do livro (apesar de que no decorrer dos capítulos, vamos
tendo dicas de algumas coisas). O autor vai te guiando na história e nos níveis
do silo. Cada narrador (pois o livro não é narrado só por um indivíduo) dá um
tom especial a obra.
E
olha que são três livros, sendo que o terceiro ainda não foi publicado no
Brasil. Os dois primeiros foram publicados pela Editora Intrínseca.
O
maior barato dessa história são os personagens e a sociedade em si criada pelo
autor. A forma como eles se administram, se reproduzem, se alimentam e,
principalmente, se estratificam socialmente é inteligente e uma crítica social
também. Porque ao mesmo tempo em que mostra as condições de vida e comunicação
dentro dessa sociedade bem segmentada, o autor nos mostra como s níveis de
estratificação social são parâmetros para os níveis em que cada indivíduo se
comunica ou tem acesso a informação.
As
fazendas hidropônicas, a maternidade e a questão da loteria (onde são sorteados
aqueles os quais tem autorização para ter filhos), os níveis da T.I., os
representantes políticos e da lei, a mecânica. Cada um deles, níveis ou posições
sociais são fascinantes nessa história. É uma coisa comum e real às nossas
sociedades, mas remodeladas de uma maneira diferente e também ímpar.
Minhas
partes favoritas do livro são as narradas pela Juliette (protagonista), pelo
Xerife Holston e por Walker. Pela primeira temos a visão da desconfiança do
sistema, a força e inteligência ante a adversidade. Pelo segundo, temos uma
visão da perda dos entes queridos para a limpeza, o peso na consciência ante a
crueldade do sistema e a esperança de redenção. E pelo último, vemos um olhar mais
velho sob o levante do silo e o peso das ações que os indivíduos tomam em prol
de uma dita liberdade.
Esse
livro é poético e filosófico também. Não no sentido de nos trazer coisas novas,
de um descobrimento do mundo. Mas sim de um descobrimento de nossas próprias
ações, esperanças e consequências. Dos nossos erros em prol de uma verdade que
não sabemos se queremos ou não saber.
E
a verdade desse livro chega a ser perturbadora. Do meio para o final, a história
toma um rumo eletrizante. Porque temos uma visão de dentro do silo e de fora
dele também. Mas não ou falar sobre isso, porque vai ser spoiler na certa.
O
único ponto negativo que menciono ao livro é o romance. Na realidade não é bem
um ROMANCE, mas um sentimentalismo romântico meio fora de hora, que Hugh
poderia ter deixado o livro sem. Não me convenceu. Creio que não convenceria
nem aos próprios personagens. Mas o final desse livro foi maravilhoso e
instigante. Você já fica querendo saber tudo o que aconteceu para o mundo estar
como está e o que acontecerá com essa história.
Então,
amigos, leiam esse livro. É uma das melhores distopias que já li. Espero que o
autor mantenha o nível nos próximos da série.
Boa
leitura!
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