Suspirando, Cinder se curvou
sobre a caixa de ferramentas debaixo da mesa de trabalho. Depois de procurar em
meio àbagunça de chaves de fenda e chaves inglesas, ela se levantou segurando o
saca-fusíveis que havia muito tempo estava escondido ao fundo. Um por um,
cortou os fios que ainda conectavam seu pé ao tornozelo, cada um soltando uma
pequena faísca. Como suas mãos estavam protegidas pelas luvas, ela não podia
senti-las, mas o visor de retina, de modo prestativo, informou-lhe com um texto
piscante em vermelho que ela estava perdendo a conexão com o membro.
Deu um puxão no último fio e
seu pé retiniu no concreto.
A diferença foi imediata. Pela
primeira vez na vida, sentiu-se ... leve.
Olá,
leitores. Aqui vai mais uma resenha de um livro muito divertido, rápido de ler
e com uma história no mínimo intrigante.
Cinder, o
primeiro livro de As Crônicas Lunares, nos apresenta um
planeta muitos anos depois de uma quarta guerra mundial e de um tratado de
formação dos países em grandes comunidades. O mundo também vive um certo
conflito com os habitantes da Lua, os lunares. Esses seres fisicamente humanos,
são os descendentes poderosos de um grupo humano que foi à lua há muitos anos
atrás. Esses seres acabaram desenvolvendo certos poderes, sendo o mais
proeminente deles o Glamour. Esse
poder se resume em provocar nas vítimas uma verdadeira adoração pelo lunar,
tornando-se um ser controlado, em ações e pensamentos, pelo atacante.
Os
lunares usam essa capacidade de forma bastante natural e livre, sendo que o
controle acentuado sobre essa capacidade pode levar um lunar à loucura.
Fazendo
essa apresentação sobre as capacidades lunares, que não são spoilers, voltamos
a terra, especificamente para a comunidade de Nova Pequim, onde Cinder vive com
sua guardião e as filhas dela. Cinder é uma ciborg e por isso considerada uma
pária social. Um acidente desconhecido da garota acabou obrigando os médicos a
colocarem partes metálicas em seu corpo. Uma mão, um pé, um olho, entre outras
coisas. Cinder, no entanto, é um ser humano ainda, e sente como as outras
pessoas.
Ela
é uma adolescente de 16 anos, que vive sendo obrigada a sustentar o luxo da
madrasta com seu excelente trabalho de mecânica. Suas únicas amigas são Iko, um
robô androide que sempre a auxilia, e Peony, uma de suas irmãs, a única da
família com a qual convive bem.
Logo
no início da história, Cinder encontra o filho do imperador, príncipe Kaito,
que vai atrás dela para que a mesma possa realizar o conserto de um androide
valioso para o príncipe. Esse encontro vai ser o início de uma série de
aventuras e descobertas que acompanham Cinder e Kai ao longo de toda a série.
Descobertas que vão ser surpreendentes para Cinder e seu destino na terra.
Descobertas também que vão provocar ações intempestivas por parte de todos e
que influenciaram nas tensas relações entre a terra e a lua.
Esse
resumão é todo para afirmar que esse livro é bom. Tem um pouco de tudo, drama,
doenças sem cura, romance, conflitos políticos, relações parentais
conflituosas, preconceito, distinção, investigação e diversão. E foi uma
mistura bem elaborada pela autora, de modo que nos sentimos instigados a
continuar a leitura até o fim, assim como a série.
Mas
por melhor que seja a história, se você pensa em ser muito surpreendido no
texto, vou logo avisando que não vai ser bem assim. Muitas das descobertas nós
adivinhamos ao longo do texto e sabemos das coisas muito antes dos próprios
personagens. A história vai se desenvolvendo de uma maneira bem fluida e que as
pistas vão sendo facilmente percebidas. Não tem como se surpreender com isso,
mas creio que foi opção da autora deixar isso ocorrer.
Mas
no quesito das cenas, no desenvolvimento dos personagens, senti-me muito
contente com o livro. Os diálogos tem uma pitada de sarcasmo. A Cinder é uma
personagem forte, mas ainda uma adolescente que cria mais confusão do que tem
tempo para resolvê-las. Mas Cinder tem um nível de maturidade bem definido, que
se apresenta em muitos momentos da leitura.
Só
não gostei muito do romance. Achei que ela e o Kai poderiam ser excelentes
amigos, mas não um casal. Pode ser que no decorrer da série, essa minha
percepção mude. Já li o segundo livro, que vai ter resenha já já, e essa
percepção ainda não mudou, tanto porque minha atenção foi levada inteiramente
para outros personagens.
Esse
livro faz um rápido panorama das condições atuais de sobrevivência na terra que
é bem interessante, além de uma alusão à situação da Lua. Em primeiro lugar, os
terráqueos estão vivendo de forma mais organizada e as decisões são mais
centradas, a fim de evitarem-se conflitos. Nos entanto, existem estratificações
sociais ainda bem definidas e conhecidas nossas. Os ciborgs, por exemplo, são
amplamente discriminados, por mais que prestem serviços aos demais seres. Os
androides e demais robôs são parte da sociedade, e de forma bem ativa tem papel
nas situações e desenvolvem até personalidade, como Iko, que é uma das minhas
favoritas da série até o momento. Não identifiquei na história pessoas em
situação de miséria, tirando aqueles que são pegos pela doença e exilados do
convívio social. Ah, e uma das minhas coisas favoritas foi a percepção de que
todas as informação são amplamente acessíveis as pessoas de forma tecnológicas.
Todos tem tablets e formas de comunicação e acesso à dados bem evidente.
Em
segundo lugar temos a Lua, onde habitam os lunares com sua poderosa tecnologia.
É uma sociedade perfeita, aparentemente, que se serve do Glamour para manter o
controle e o equilíbrio entre seus pares. Isso é bem expressivo no
comportamento e fala da rainha de Luna, Levana, uma mulher dominadora, fria e
determinada, que quer tomar a terra a qualquer custo. Ela mantém um controle
absoluto sobre a população de seu planeta, eliminando aqueles que não se
submetem à seu comando e até mesmo aqueles que são insensíveis ao seu poder.
Pelo
andar da carruagem, acredito que vamos ver indícios de rebelião em vários lugares e conflitos chegando por aí, principalmente
após a leitura de Scarlet.
Só
tenho que agradecer a Marissa Meyer pela escrita criativa e a Editora Rocco por
nos disponibilizar essa aventura. Recomendadíssimo!
Boa
Leitura!
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