Os Três - Sarah Lotz

Estão vindo pegá-la, ela sabe.
O medo se esvai, substituído pela certeza de que ela não tem muito tempo. É como se uma Pam fria e confiante – uma Pam nova, que ela sempre quis ser – entrasse e assumisse seu corpo espancado, agonizante. Ignorando a sujeira onde sua barriga estivera um dia, ela tateia procurando a pochete. Ainda está ali, embora tenha sido girada para a lateral do corpo. Fecha os olhos e se concentra em abrir o zíper. [...]
Eles continuam a se esgueirar e ela ainda não consegue identificar nenhuma característica facial. E onde está o garoto? Se ao menos pudesse dizer para ele não chegar perto deles, porque ela sabe o que eles querem, ah, sim, ela sabe exatamente o que querem. Mas agora não pode pensar nisso, não quando está tão perto.

Enfia a mão na bolsa, dá um gritinho de alívio quando os dedos roçam na parte traseira lisa do telefone. Com cuidado para não deixá-lo cair, retira-o – tem tempo para se maravilhar com o pânico que sentiu antes, quando não conseguia lembrar onde o havia colocado – e instrui o braço a trazê-lo até o rosto. E se ele não funcionar? E se estiver quebrado? Não vai estar quebrado, ela não vai deixar que esteja quebrado, e grasna em triunfo quando escuta a animada musiquinha ao ligá-lo.

Quase lá...

Obs.:
A resenha abaixo eu fiz para o Goodreads e relendo-a não consegui imaginar outra forma de contar como esse livro me afetou. Há pouquíssimas alterações. Fiz logo depois de terminar a leitura. Espero que gostem.



Não sei expressar direito o que senti com a leitura dessa obra. Principalmente depois de acabar e saber que é uma série e já tem o segundo livro.
Primeiramente quero frisar que o livro não é ruim. Ele é bom e a forma como a autora resolveu escrever essa história dá a ela um ar muito interessante de suspense. Mas não foi aqueles suspense AH MEU DEUS, O QUE FOI QUE ACONTECEU?! Pelo menos não para mim. Fiquei curiosa sim, para entender o que realmente tinha acontecido, porque ela não é uma história linear comum e ao longo da leitura vamos juntando os pedaços para entender EXATAMENTE tudo o que aconteceu. Só o início e o final do livro seguem uma ordem mais linear de escrita.

Mas vamos a história. Tudo inicia com um acidente de avião no Japão, onde a única americana a bordo narra o acidente e deixa uma mensagem no mínimo estranha em seu celular antes de morrer. Nessa mensagem ela faz referência a um menino e curiosamente só há um sobrevivente deste acidente, um menino pequeno, de não mais de 6 anos, que teve ferimentos leves. Já de início você percebe uma série de características "paranormais" no relato deixado pela americana. Esse relato aliás é o estopim de toda a confusão que rodeia os personagens.
E essa confusão se deve também ao fato de que, com poucas horas de diferença, outros três aviões caem nos outros continentes e dos três, dois tem como únicos sobreviventes crianças na mesma faixa etária do menino do Japão e que saíram praticamente ilesos.

Vamos acompanhando o desenrolar dessa história através de um livro de uma jornalista que foi lançado meses depois do ocorrido e que vai relatando através de entrevistas, gravações, depoimentos, artigos de jornais, conversas de chats tudo o que as pessoas comentaram a respeito do milagre dos Três. [É a forma como ficaram conhecidas as crianças].

O mais interessante de tudo é que nós temos uma vaga ideia do vai acontecer, mas é a forma como a autora trabalha a natureza humana e sua psicologia que envolve e cativa o leitor, levando-o a continuar a história. Ao longo das partes do livro, vamos tendo flashes do que aconteceu no "final" da história, mas só vamos descobrindo as coisas importantes aos poucos. É como os relatórios e arquivos que compõem um processo de investigação. Tem uns momentos em que dá um certo medo. Você fica preocupada com o desenrolar das ações de cada personagem e em como isso vai afetar o mundo.

Sim, o mundo, porque nós vemos nesse livro uma série de atos de histeria coletiva e de discursos proféticos, ufológicos e científicos que nos dão uma visão muito real do que é fanatismo.

Isso foi o que me ganhou no livro. A natureza humana e a forma como a autora a trata. É claro que as situações se tornam bem extremistas, mas o pior (ou o melhor do livro) é que eu conseguia ver muitos daqueles pensamentos e ações podendo ocorrer na vida real. Imaginá-los ocorrendo no aqui e agora.

O final do livro foi um pouco óbvio. Mas foi bom ver como ela trabalhou a repercussão não só dos fatos, mas da obra escrita dentro deste livro (um livro dentro de outro - AMEI).

Foi uma boa leitura, mas não sei se leria esse livro novamente. Realmente não me senti de todo confortável e nem expectante para terminar o livro rápido ou continuar a série. Ficou uma sensação de desconforto que não sei explicar bem.

E é, por isso mesmo, recomendo.


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