Esta é uma postagem diferente, pessoal. O objetivo aqui não é resenhar algo, mas sim fazer um tipo de divulgação, ou melhor, de reconhecimento da história e literatura da América Latina e seus personagens.
Estou estudando espanhol já faz um tempo e me vejo cada dia mais encantada com a escrita latina. Existem tantas obras legais e interessantes a serem lidas, além daquelas importadas dos EUA e da Europa. A América Latina tem muito a oferecer em questão de leitura, em todos os gêneros literários.
José Martí |
Fazendo uma pesquisa literária sobre Cuba, descobri que José Julián Martí Pérez¹ foi, além de um dos organizadores da Guerra de Independência de Cuba, ou Guerra Necessária, um poeta e escritor conhecido do século XIX. Ele é reconhecido por alguns como um dos iniciadores da revolução poética modernista².
Muito de seu trabalho tem influência no movimento revolucionário do país, do qual fez parte, e de seus dois exílios. Mas o autor possui uma veia romântica envolvente, que se pode ver em sua obra Versos Sencillos, em que trata de passagens e pensamentos mais pessoais de sua vida.
Dentro dessa obra, existe um poema que quero destacar aqui, apesar de ainda não ter lido a obra, que trata não só de um evento pessoal, mas também de uma lenda que envolve Cuba e Guatemala. Se trata da Niña de Guatemala.
Vamos conhecer um pouco da história dela.
María García Granados y Saborío |
José Martí viveu alguns meses na Guatemala durante sua primeira deportação ou exílio, como catedrático de literatura na “Escuela Normal Central. Conheceu María García Granados y Saborío nesse período, a qual se caiu enamorada de José. Porém ao sair de Guatemala em fins de 1877, foi para o México e se casou com Carmén Zayas Bazán (que depois de um tempo vai afastar-se dele junto com o filho do casal). Ao retornar a Guatemala em 1878, já casado, acaba provocando imensa tristeza em María, que um tempo depois é encontrada morta em um río da cidade.
A triste lenda guatemalteca nascida desse trágico fato trata, especificamente dos amores frustrados de María e José, apesar de eu considerar que foi mais frustrada da parte dela que da dele. Não se sabe ao certo o motivo da morte da jovem. Muitos acreditaram que por conta do frio da noite a jovem caiu morta, já que se encontrava muito debilitada e a família não sabia o motivo da doença. Porém, José Martí, em 1891, ao publicar “Versos Sencillos”, deixa entrever que a jovem morreu de amor por ele ou suicidou-se.
Edição de 2014 |
Muitos não corroboraram essa ideia, mas o clima de mistério deu asas a imaginação da população, que deu status de lenda a morte da jovem.
O poema IX de Versos Sencillos, também conhecido como La Niña de Guatemala, é um declaração poética dos fatos acima mencionados. Quando li o poema, vi-me pensando em outro, do poeta brasileiro Alphonsus de Guimaraens, nascido no século XIX. Mas não me perguntem o motivo da lembrança. Ou melhor, acho que o clima de suicídio dos dois poemas e a sensação de tristeza deixada pelos dois os assemelham. Vocês me digam, depois.
Abaixo segue o poema de Martí. Há também uma canção do poema, do intérprete Óscar Chávez, que vocês podem conferir abaixo.
La Niña de Guatemala (Poema IX)
José Martí
Quiero, a la sombra de un ala,
Contar este cuento en flor:
La niña de Guatemala,
La que se murió de amor.
Eran de lirios los ramos,
Y las orlas de reseda
Y de jazmín: la enterramos
En una caja de seda…
…Ella dio al desmemoriado
Una almohadilla de olor:
El volvió, volvió casado:
Ella se murió de amor.
Iban cargándola en andas
Obispos y embajadores:
Detrás iba el pueblo en tandas,
Todo cargado de flores.
…Ella, por volverlo a ver,
Salió a verlo al mirador:
El volvió con su mujer:
Ella se murió de amor.
Como de bronce candente
Al beso de despedida
Era su frente ¡la frente
Que más he amado en mi vida!
…Se entró de tarde en el río,
La sacó muerta el doctor.
Dicen que murió de frío,
yo sé que murió de amor.
Allí, en la bóveda helada,
La pusieron en dos bancos:
Besé su mano afilada,
Besé sus zapatos blancos.
Callado, al oscurecer,
Me llamó el enterrador,
Nunca más he vuelto a ver
A la que murió de amor. ³
E aí, gostaram?
Notas
²http://www.lerjorgedesena.letras.ufrj.br/antologias/ensaio/sobre-o-modernismo-na-america-hispanica/
Comentários
Postar um comentário