Resenha: A Metamorfose - Franz Kafka

Olá, Leitores.

A pausa no blog foi por motivos de falta de tempo, mas hoje venho trazer uma das minhas leituras mais recentes e tristes. Olha o Kafka, meu povo!

Essa foi uma leitura que eu protelei por muitos anos, desde a faculdade, e esse ano resolvi que não iria mais me desviar dela. E fiquei muito feliz com a leitura. Uma triste realidade camuflada sob uma fantástica transformação. Não derramei lágrimas, mas fiquei tocada com a forma como o autor usou da metamorfose do protagonista para trabalhar um drama familiar e social. Mas vamos a história.


O jovem caixeiro-viajante, Gregor Samsa, acorda um dia de forma bem peculiar, como uma grande barata. Sim, uma barata. Da forma mais estranha, em vez de ficar seriamente assustado, ou pensar ter enlouquecido, o jovem passa a se preocupar com o seu trabalho e com a vida de sua família empobrecida. Tentando encontrar uma forma de ajudar seus entes-queridos, manter a sanidade, e não perder o emprego, Gregor se depara com incompreensão, violência, deboche e fome.

A história de Gregor, apesar de fantástica, mostra muito bem como a situação familiar pode ser por vezes cruel com aqueles incapacitados de atuarem em sociedade. Gregor se tornou para seus familiares algo asqueroso, nojento, perturbador. Exilado dentro do próprio quarto, muitas vezes passando fome, ele começa a refletir sobre o ser humano e as coisas que só percebemos quando já é tarde.


Primeiramente, o que mais me chamou atenção foi a preocupação de Gregor com a família. Mesmo acordando em uma condição muito extraordinária, seu primeiro pensamento não é sobre sua saúde, mas sobre o impacto que isso vai ter na sua família. Gregor tem os dois pais e uma irmã mais nova, e é quem sustenta a casa da família depois que o negócio do pai faliu. Tendo essa grande responsabilidade, já que o pai está debilitado, sua atual condição só lhe traz sofrimento. Mesmo assim, logo no início do livro, ele tenta ao máximo se preparar para o trabalho, pois ele tinha uma série de objetivos e, como jovem dedicado e amável, pretendia dar o melhor futuro para sua família.

Porém, sua condição torna impossível ser visto em público. Quando ele consegue sair, de maneira muito criativa do quarto, e se apresenta a sua família e chefe, o medo é forte no semblante deles, mesmo que Gregor não preste atenção a isso, preocupado que estava com a família. Ser ameaçado pelo próprio pai para ir ao quarto, como um simples inseto (mesmo que ele esteja na forma de um) é muito doloroso e confuso para o jovem. 

Ele não perdeu sua consciência humana, só não é mais capaz de ser útil a família. Isso me lembrou muito a situação de invalidez e incapacidade física que muitas pessoas enfrentam. Considerados ineptos para o trabalho, muitos acabam sendo isolados socialmente por medo ou incompreensão.

De início, mesmo medrosa, a irmã de Gregor, pela qual ele tem muito carinho, vai deixando diversas comidas para ele no quarto, mas nunca se dirige a ele. E ao perceber o quanto sua visão é perturbadora para a irmã, ele se esconde o mais que pode, para privar-lhe desse sofrimento.

Enquanto a irmã  mostra sensibilidade a situação de Gregor, seus pais o ignoram. A mãe de Gregor, com o tempo, ainda tenta ver o filho, mas desiste ao perceber que fisicamente ele não retornou. O pai, esse o ignora, e nas poucas vezes que o vê, é agressivo e cruel, mesmo o pobre Gregor sendo submisso e nunca tentando entrar em seu caminho.

Gregor, em sua condição de barata, tenta desvendar o quarto, seu único espaço de vida, enquanto descobre mais sobre ser uma barata. Tentando o melhor para sobreviver, ele não deixa de se sentir triste e deprimido pela situação na qual se encontra perante a família. Não quero dizer aqui que mentalmente ou fisicamente ele se poe contra todos eles e se torna hostil, mas percebemos que aos poucos em cai em uma profunda depressão por não ser mais querido como era antes.

Ele vai percebendo também o quanto sua família mudou. Enquanto, quando ele era humano, cuidava de toda a casa e de sua família "incapaz", logo ao se ver como barata, percebe como eles não eram realmente assim. O pai começa a trabalhar e adquire uma aparência confiante e saudável que Gregor nunca mais pensava ver. A mãe, mesmo triste, começa a costurar para outras pessoas. E a irmã de Gregor, que ele acreditava ser meio frívola e protegida - uma inocente -, com a qual ele sonhava em presentar com os estudos num conservatório, vai trabalhar como atendente e passa a ignorá-lo. 

E nesse momento a situação dele piora. Gregor, sentindo a necessidade de estar próximo a família, percebe o quanto ela se ressente da sua condição e do que eles tiveram que fazer para superá-la. Isso é o que mais me deixou triste e reflexiva com essa história. Como muitos de nós podemos ser artificiais e tratar as pessoas de maneira descartável - de forma consciente ou não - durante a vida. O jovem e promissor Gregor teve sua vida alterada para sempre e nem com o apoio familiar pode contar.


Gostei muito do livro. A linguagem é clara, realista e simples. É uma história rápida de ser ler - facilmente lido em um dia - e que te envolve e faz refletir. Foi meu primeiro contato com Kafka e fiquei curiosa para ler mais obras do autor.

Recomendo.

Boas leituras.




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