Resenha: Na Berma de Nenhuma Estrada - Mia Couto.



Olá, leitores.

Hoje trago a resenha de um livro de contos do autor moçambicano Mia Couto. Confiram!

Na Berma de Nenhuma Estrada reúne contos que mostram o cotidiano e as crenças, convicções, religiosidade e cultura de um povo. Apesar da língua portuguesa ser a oficial no Moçambique, ainda senti certa estranheza com as palavras usadas popularmente. O fascínio pela leitura só cresceu a medida que fui lendo a obra. É cativante conhecer aspectos de outro país através da leitura.

Estamos tão acostumados a lermos obras americanas ou inglesas, que não nos causa estranhamento os costumes lidos nas obras que temos acesso. Quando pegamos uma obra de um outro país, temos acesso ao que é considerado humorístico, romântico, adequado e inadequado em outras culturas, e isso nos causa estranheza e deslumbramento. A importância de conhecer e aceitar o diferente. Foi muito legal passar por essa experiência com a obra de Mia Couto.

Nunca havia lido nada do autor, mas gostei de como a escrita é fluida. Lembrou muito os autores do nordeste, que falam das experiências do homem com o lugar a sua volta. E, a meu ver, conhecer as nuances das relações sociais que são apresentadas no livro, revelou uma crítica social importante na escrita do autor.

Na obra, nos deparamos com vários personagens diferentes. Homens, mulheres, crianças, adolescentes. Cada um numa busca diferente por reconhecimento, amor, aceitação. Existem elementos fantásticos na história e um senso do que é sagrado e espiritual para o povo, o que me emocionou muito.

A obra tem contos bem divertidos, como o do gato voador, que revela as situações de pobreza e como a criatividade humana encontra um caminho para a sobrevivência. Em outros, nos emocionamos, como no caso de Benção, que vai tratar da relação de uma babá e seus patrões.


Em alguns momentos, os contos tomavam rumos tão inusitados, que fui pega de surpresa várias vezes, me sentindo positivamente chocada com as reviravoltas. Muitas histórias são reflexivas, pensamentos sobre o tempo, desejo de mudança, como o próprio conto-título do livro. 

Temos uma reflexão sobre as relações entre portugueses e moçambicanos, sobre ser pobre, sobre questões de preconceito e raça. Nada mais comovente e questionador do que o conto sobre duas famílias vizinhas que se vem jogadas numa briga quando os questionamentos sobre raça são discutidos. Temos até um conto que trata de forma bem diferente sobre pessoas transgêneras.

Vemos como os esteriótipos e as verdades de cada um, quando não há diálogo, podem destruir não só amizades, mas vidas também.

Fiquei tão feliz de conhecer essa África tão próxima da gente, pois existem muitas similaridades de relações e situações. Trouxe-me uma sensação boa fazer a leitura dessa obra. E o fato de ser minha primeira leitura não só africana, mas de um autor africano de um país de língua portuguesa, tornou tudo ainda mais gratificante. Espero ler mais coisas de Mia Couto. Tem muita coisa do autor, não só de contos, mas de romances também, publicados no Brasil.

As edições e as capas dos livros estão maravilhosas, além dos títulos serem instigantes.



Super recomendo a leitura da obra.

Boas leituras!


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