Literatura Indígena - Os Livros que Li No Mês Até Agora.




Olá, leitores.

Hoje venho falar sobre as leituras que fiz em junho até o momento, focando na literatura indígena que fui convidada a conhecer pelas várias discussões sobre o assunto nas redes sociais.

Devo afirmar que nunca parei para pensar em literatura indígena. Falar sobre a questão indígena no nosso país ainda é algo vago para a maioria da população, o que só faz mais pertinente conhecer as mais variadas produções culturais dessa parcela da população brasileira.

Vendo alguns vídeos que a Mayra, do All About The Book, postou para o projeto do Abril Indígena do canal dela, percebi o quanto ignoramos que a população indígena existe e produz conteúdo. Pegando algumas dicas que ela colocou nos vídeos e vendo a disponibilidade dos mesmos na Amazon - alguns em promoção, outros no Kindle Unlimited -, separei 4 leituras para esse mês de junho.

Vou comentar com vocês cada uma delas. Resolvi fazer um único post, pois todos os livros que resolvi ler eram de curta duração. Isso foi uma questão pessoal, porque esse mês tenho muitos projetos de leitura em andamento, assim como a MLI 2020 - que falarei futuramente aqui no blog.

Mas ledo engano daqueles que pensarem que por serem narrativas curtas, essas obras não tenham tanto impacto. Aliás, duas delas foram muito emocionantes.

O primeiro livro que li foi O Amanhã Não Está À Venda, do Ailton Krenak.


Nessa breve reflexão sobre a situação de pandemia que estamos enfrentando agora, o autor reflete sobre a vida estávamos levando, de forma desenfreada e caótica, sem parar e refletir sobre o impacto que nossas ações tem sobre a natureza e como isso, sistematicamente, nos afeta.

Como diz o autor, parafraseado aqui, me disseram que era impossível o mundo parar, mas o mundo parou. E eu pensei nas várias imagens que foram postadas nas redes sociais nesse período, de como as pessoas viam o céu mais limpo; de como havia uma certa paz no silêncio das ruas sem os engarrafamentos. O mundo, nós inclusos, precisa parar de vez em quando e respirar profundamente, para que possamos seguir em em frente.

Minha segunda leitura foi Sehaypóri, do Yaguarê Yamã.


Este é o livro sagrado do povo Saterê-Mawé, onde conhecemos como esse povo conta sua história desde a construção do mundo e todas as criaturas, até a formação da sua estrutura social, seus costumes e sua relação com a natureza. 

Eu, como não-indígena, sempre tive a ideia de que a relação entre os povos indígenas e a natureza era próxima. Mas isso era mais uma ideia generalizada do que uma crença e algo baseado em fatos. Entretanto, conhecer a história contada por esse povo e a forma intrínseca como eles vem o homem como fruto de sua relação com a natureza é cativante. 

Percebi algumas similaridades com os mitos de criação de vários grupos e religiões, apresentando uma dualidade entre o bem e o mal, mas de uma forma que eu não tinha visto ainda. Algumas das histórias foram um pouco cansativas de acompanhar, mas percebi que, por se tratar de história oral, que foi posteriormente escrita, elas prenderiam muito mais a atenção se narrados em voz alta - gostaria de um audio-book dessas histórias. Por conta disso, muitas das narrativas do livro eu lia em voz alta.

A terceira história lida foi Contos da Floresta, do mesmo autor de Sehaypóri. 


Aqui temos uma série de narrativas dividas entre Mitos e Lendas indígenas. Muitas delas são histórias de visagem (fantasmas) e posso afirmar que muitas me fizeram um pouco medrosa. 

As histórias tem lições sobre respeitar a floresta e seus ensinamentos. Algo nessas histórias que me chamou a atenção e que vi ser recorrente nos livros que li, é a importância de você só tirar da floresta o que é necessário para o seu consumo, e não mais do que isso. É um ensinamento recorrente nas histórias e algo que muito nos diz sobre o modo de vida das populações indígenas. O consumismo exacerbado ataca as florestas, os animais e o próprio homem, nos envolvendo em um ciclo auto-destrutivo. 

O quarto e último livro lido foi Um Dia Na Aldeia, de Daniel Munduruku.


Aqui acompanhamos através dos olhos de uma criança, um dia em uma aldeia. As organizações de trabalho, as crenças, as brincadeiras e o sentido de comunidade que guia o grupo. Ver tudo isso pelos olhos de uma criança foi muito interessante, pois a cada momento de interação com os adultos e com outras crianças, percebi como a relação de respeito com a natureza e com os outros faz parte do aprendizado deles.

Percebemos isso nas brincadeiras, na forma como o personagem principal ajuda a mãe. Nas conversas que ele houve dos adultos. O dia é tão cheio de energia e aprendizado, ao mesmo tempo, também cheio de carinho e amor, que fiquei emocionada com a conexão entre cada um deles. É uma história curta, mas muito tocante e as ilustrações que compõem a obra são lindas.

Recomendo a leitura de todas as obras. Algumas são mais envolventes do que outras, dependendo do seu gosto literário, mas todas são cativantes e nos dão outra percepção de mundo.

Pretendo ler mais obras de autores indígenas ao longo desse ano e venho contar para vocês o que achei sobre elas.

Boas leituras!


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