Pedido de Desculpas à Comunidade Negra

Depois de todos esses anos e diante das questões levantadas pela comunidade negra que leu a obra Perdida, da autora brasileira Carina Rissi, e questionou o apagamento de sua história, já que - segundo a nota da autora no final do livro - era melhor tirar a escravidão para tornar o livro leve, meu modo de ver a história mudou muito. Ter gostado de uma obra, por ser leve e divertida, mas esquecer que, dentro do período histórico abordado, a escravidão ainda existia, não é o caminho correto. E eu, como mulher branca, sinto-me envergonhada de ter deixado passar essa questão, o que reflete minha própria atitude racista. E assumir isso é duro para mim, que nunca me imaginei racista. 

               O racismo não está só nos xingamentos e violência física, está também no uso de palavras que tem origem no preconceito ao negro, e encontramos isso em muitas palavras, expressões, em muitos ditos populares, e na própria literatura. E eu preciso rever e encarar todo e qualquer comportamento racista que fui ensinada a internalizar e a perpetuar indiscriminadamente. É preciso refletir e se corrigir.

                Quando digo na resenha que fiz da obra em 2016 que Sofia seria uma forte e 'escandalosa' abolicionista, é porque a personagem tinha toda a força de caráter para fazer críticas e apontar injustiças, doa a quem doer. Se a autora tivesse levantado essa questão, vejo agora, o livro teria sido muito mais realista, algo que parecia ser uma preocupação da autora, já que a mesma se preocupou em pesquisar, por exemplo, como eram os banheiros da época, e levou em consideração o fato das missas ainda serem em latim no período.

O fato de Sofia voltar no tempo não dá liberdade para apagar a questão da escravidão, e muito menos a justifica, principalmente porque essa é a única mudança, o que denota um caráter racista à obra.

Fica aqui o meu pedido de desculpas à comunidade negra. Recomendei um livro que ignora sua dor e luta. Que preferiu esquecê-los porque a escravidão foi algo vergonhoso na nossa história. Sinto por isso e me dedicarei a não ignorar o racismo na minha vida e nos livros que leio, apontando-o, questionando-o e acusando-o.

A resenha do referido livro e sua continuação, que foram postados em 2016, serão excluídos deste blog. 

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