Vamos de resenha da primeira leitura desse ano? Comecei bem, viu.
Já aproveito para dizer que foi uma leitura importante e que me surpreendeu. Quanto mais paro para pensar na história, mais me surpreendo com o quão significativa ela é. Mas vamos falar um pouco da história.
O livro, de início, não me pareceu tão merecedor do hype que teve, e nem parecia se encaixar no suspense como foi classificado. Não que a história se tornasse menos interessante por conta disso, mas isso meio que me deixou um pouco desanimada com a leitura inicialmente.
O que me incentivou a prosseguir com a mesma foi justamente o enfoque que o livro dá no crescimento físico, mas principalmente de conhecimento que essa jovem tem. Kya cresceu intelectualmente de maneiras tão bonitas e surpreendentes para mim, que ao terminar o livro só pude parar para pensar no orgulho que sentia dessa personagem e de quem ela se tornou. Sozinha, ou melhor, forçada ao isolamento pelo preconceito da época, já que o livro se passa nas décadas de 50 e 69, ela atingiu um patamar que não se espera de uma pessoa que cresceu nas condições em que Kya cresceu.
Kya também teve ajuda, de pessoas que passaram a se importar profundamente com seu bem-estar e com sua personalidade, muitas vezes arredia e distante. Pessoas que viram sua coragem e força e admiravam e respeitavam quem Kya era e o que se tornou.
Infelizmente a personagem passou por situações horríveis, que até hoje estão muito presentes na sociedade como vivemos: bullying, violência doméstica, assédio sexual, preconceito social. Kya pode aparentemente não ter superado tudo isso, mas ela conseguiu seguir em frente, mesmo com seus problemas. Criou um santuário para si e para o brejo - família - que tanto ama.
Outros personagens que me cativaram na história foram Pulinho e sua esposa Mabel. Negros, sofrendo diariamente com o preconceito, se tornaram um dos alicerces da vida de Kya, uma jovem criança branca abandonada. Uma amizade que progrediu para um amor familiar. Emocionei-me com a solicitude desse casal; com a sagacidade em perceber os humores de Kya; a astúcia para penetrar a parede que a jovem colocou entre si e o mundo; e o amor em guiar a menina no mundo sempre que podiam, e mesmo quando não solicitados.
E temos também Tate, que apesar dos erros, se mostrou um personagem presente e atento ao que Kya precisava. Que lutou por algo melhor por ela e lhe ensinou a usar uma das mais importantes ferramentas para que Kya se tornasse o que se tornou: a leitura.
Esse livro é uma jornada para entendermos o mundo através das lições que a protagonista aprende, ao mesmo tempo em que nos mostra a importância de conhecer seu lugar no mundo e o papel desse mesmo mundo e sua natureza no que somos. Somos todos reflexos da mesma grande criação e Kya nos mostra isso com simplicidade e coerência. Com um olhar atento e respeitoso ao nosso redor aprendemos muito mais do que anos trancados numa sala de aula.
A autora usa uma linguagem simples e fluida, e quando você percebe que o livro está terminando, já vai sentindo falta da leitura. A forma como ela resolveu contar a história, usando duas escalas temporais - uma da investigação de um crime e outra da trajetória de vida de Kya dos 6 aos 24 anos - até que as mesmas se cruzam foi maravilhosa de acompanhar. Eu ainda não considero este livro um suspense. Para mim é um drama e a jornada de autoconhecimento e superação de uma mulher em meio a tantas adversidades.
O final do livro me surpreendeu e fiquei tão chocada com uma descoberta quanto um dos personagens ficou. Mas achei condizente com todo o enredo. Foi positivamente um dos melhores finais que já li.
Acredito que tenha ficado meio óbvio minha recomendação desta leitura. Porém, sinto que é necessário que o diga diretamente: LEIAM!
Boas leituras.
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